Mulheres que Fizeram História na Aviação
Sabe-se que em 23 de outubro de 1906, Santos Dumont sobrevoou Paris com seu famoso “14 Bis”, tal acontecimento ficou datado como o primeiro voo de avião do mundo, vindo de um brasileiro, mesmo com as controvérsias dos irmãos americanos Wilbur e Orville Wright, que realizarem o primeiro voo em 1903. De qualquer forma, foi um homem que inventou tal máquina que hoje nos leva em minutos ou em horas a qualquer lugar do mundo.
Não se sabe se foi pelo pioneirismo dos homens na área, mas no Brasil, em 2016, haviam apenas 197 mulheres entre os 13.928 pilotos de avião, segundo o Jornal O Globo, escrito por Eduardo Vanini em 13 de março daquele ano. Sabe-se que as mulheres sempre enfrentaram desafios para conquistar seu espaço no mercado de trabalho e na aviação eram vistas como incapazes de manusear algo tão grande e pesado. Mas em pleno século XXI, onde o feminismo aflora em quase todas as mulheres, será que ainda há espaço para preconceito e, devido a isso, elas encontrarem dificuldades para essa profissão?
Enfim, sejam quais forem os motivos, aqui vai uma bela motivação para você que sonha em ter uma carreira na aviação como pilota e pensa que não serve para você, por ser mulher ou mesmo tem apenas medo. Essas 8 mulheres aqui citadas abriram caminhos e fizeram história, nos deixando uma lição de vida, mostrando que não há limites que não possamos alcançar, basta lutarmos por eles e termos muita coragem.
Therese Peltier
Thérèse Juliette Cochet Peltier (1873 – 1926) foi a primeira mulher passageira em avião e a primeira a pilotar um. Como passageira o voo foi registrado no dia 8 de julho de 1908 em Milão, Itália. Ao lado do seu grande amigo, o piloto Leon Delagrange, eles percorreram apenas 200 metros. Como pilota, Therese voou depois de várias aulas que teve, desde 1907. Ela pilotou o avião biplano “Voisin”, porém nunca conseguiu uma licença de pilota.
Um de seus voos mais longos foi em Turim, Itália, onde ela levou dois minutos para percorrer 200 metros, a uma altitude de 2,5 metros. No final de 1908, Delagrange ofereceu um prêmio de 100 francos para a primeira mulher aviadora a pilotar um avião por um quilômetro. Peltier começou a treinar para competir pelo prêmio, mas desistiu da aviação após a morte de seu amigo Delagrange, em 1910, que morreu em um acidente de avião.
Therese Peltier não só fez história na aviação, como também nas artes. Ela tinha começado anos antes a ter aulas de escultura, depois passou a exibir suas obras em vários salões da França, onde residia. Em 1908, que parece ter sido o grande ano dela, Therese recebeu o prêmio de escultura da “Union of Women Painters and Sculptors”, que foi a primeira sociedade de artistas femininas da França.
Amelia Earhart
Amelia Mary Earhart (1897 – 1937), foi condecorada por ter sido a primeira mulher a voar sozinha sobre o Oceano Atlântico e, devido a este feito, se tornou um grande símbolo da aviação. Como era uma grande defensora dos direitos das mulheres, se tornou essencial na formação de organizações para mulheres que desejavam pilotar. Amelia estabeleceu diversos outros recordes e escreveu livros sobre suas experiências de voo. Amelia desapareceu no Oceano Pacífico, perto da Ilha Howland enquanto tentava realizar um voo ao redor do globo, em 1937. Amelia Earhart teve um filme lançado em 2009, intitulado Amelia. Ela foi uma das poucas da história da aviação a ter um filme sobre sua vida e jornada.
Ada Rogato
Ada Leda Rogato (1910 – 1986) foi uma pioneira na aviação brasileira. Ela detém o brevê número um de primeira paraquedista, entre homens e mulheres, e foi a primeira mulher no mundo a saltar de um helicóptero, realizando 105 saltos. A primeira volovelista (piloto de planador) e a terceira a se brevetar em avião. Também se destacou pelas acrobacias aéreas e foi a primeira pilota agrícola do país, ao contrário de outras famosas aviadoras, voando em aeronaves de pequeno porte.
Ada fez fama nacional e internacional, sendo chamada por inúmeros títulos como: “Milionária do Ar”, “Águia Paulista”, “Rainha dos Céus do Brasil” e “Gaivota Solitária”. Tudo se deve pelo fato de ela ser primeira em vários quesitos na aviação.
Ada recebeu dos pais a mesma educação dada à maioria das moças da época, para torná-las “prendadas”, teve aulas de piano e pintura, mas sempre quis voar. Ela não desistiu do seu sonho e depois de muito tempo, ela conseguiu juntar dinheiro suficiente para as aulas, que lhe possibilitaram tirar, em 1935, o primeiro brevê feminino de voo a vela e, no ano seguinte, a primeira licença concedida a uma mulher pelo Aeroclube de São Paulo para pilotar avião. Em 1984 foi lançado o filme de curta-metragem “Folguedos no Firmamento”, baseado na vida de Ada.
Thereza de Marzo e Anésia Pinheiro Machado
O Brasil teve ainda outras duas grandes pioneiras da aviação: Thereza de Marzo e Anésia Pinheiro Machado, que realizaram o voo solo em 17 de março de 1922. Thereza, no entanto, é considerada a primeira pilota mulher brasileira, já que sua licença foi emitida um dia antes da de Anésia. Contudo, Thereza, após se casar, seu marido Roesler a proibiu de continuar voando e ela abandonou a carreira de piloto com pouco mais de 300 horas de voo.
Anésia Pinheiro Machado realizou seu primeiro voo interestadual de São Paulo ao Rio de Janeiro, apenas cinco meses após obter sua licença de piloto, realizou como parte das comemorações do centenário da Independência do Brasil. A viagem durou quatro dias, pois ela voava apenas uma hora e meia por dia, precisando parar para reabastecer e para manutenções. Foi o primeiro voo interestadual realizado por uma mulher no país. Por conta disso, Anésia recebeu uma carta do inventor do avião, Santos Dumont, parabenizando-a pelo sucesso na viagem. Junto com o bilhete, o aviador mandou uma réplica da medalha de São Bento, que ele havia recebido da Princesa Isabel pelos feitos inéditos realizados em Paris. Anésia guardou com carinho a medalha pelo resto da sua vida.
Raymonde de Laroche
Elisa Léontine Deroche (1882 – 1919) foi a primeira mulher no mundo a obter uma licença de piloto e, em seguida, a primeira mulher a fazer um voo solo em 1910. Era atriz, conhecida como Raymonde de Laroche. Um dia, viu uma demonstração de voo motorizado feito por Wilbur Wright e decidiu que iria voar também. Laroche também é, provavelmente, a primeira mulher a sofrer um acidente de avião. Apenas quatro meses depois de obter sua licença de piloto, o seu avião caiu durante uma apresentação no show aéreo de Reims, França. Ela não morreu com o acidente, mas levou um bom tempo para se recuperar. Sem traumas do acidente, ela voltou a voar e a estabelecer novos recordes.
Em 1913, Laroche ganhou a “Coupe Femina” do Aéro-Club de France. Em 1919, estabeleceu o recorde de altitude para mulheres, em um voo que chegou a 4.785 metros. Durante a Primeira Guerra Mundial, quando voar era considerado muito perigoso para mulheres, ela serviu como motorista, conduzindo oficiais das zonas seguras até as frentes de batalha, sob fogo inimigo. Elise se tornou a primeira mulher a ser pilota de testes de um novo avião. Ela morreu exercendo essa função, no aeroporto de Le Crotoy, ao norte da França, quando em uma aproximação para pouso, o avião mergulhou em direção ao solo, matando Laroche e o outro piloto de testes que a acompanhava. Em sua homenagem, foi colocada uma estátua com sua imagem, no Aeroporto de Le Bourget, a França.
Katherine Stinson
Katherine Stinson (1891 – 1977), foi uma aviadora americana pioneira. Ela estabeleceu recordes de voo para manobras acrobáticas, distância e resistência. Em sua trajetória de se tornar uma pilota, ela estava estudando piano, mas quando descobriu o amor por voar, abandonou tudo e foi aprender a pilotar. Ela teve aulas com o aviador Max Lillie, que inicialmente se recusou a ensiná-la, por ser mulher. Mas ela o convenceu a lhe dar uma aula experimental, e com apenas quatro horas de instrução, já estava voando super bem, mostrando para ele que merecia ter as aulas.
Em 18 de julho de 1915, Stinson se tornou a primeira mulher a fazer um loop, em Cicero Field, Chicago, Illinois, e continuou a realizar esse feito cerca de 500 vezes sem um único acidente. Ela também foi uma das primeiras mulheres autorizadas a transportar correio aéreo para os Estados Unidos. Durante voos de exibição no Canadá, Stinson estabeleceu recordes de distância e resistência canadenses e, em 1918, realizou o segundo voo de correio aéreo no Canadá, entre Calgary e Edmonton, Alberta. O segundo aeroporto de aviação geral mais antigo dos Estados Unidos, o Stinson Municipal Airport (KSSF), em San Antonio, Texas, foi nomeado em sua homenagem. Stinson também foi introduzida no Hall da Fama Internacional na Air & Space Museum San Diego em 2000.
Bessie Coleman
Elizabeth “Bessie” Coleman (1892 – 1926) foi a primeira mulher afro americana a tornar-se pilota nos Estados Unidos. Foi também a primeira mulher de ascendência africana a conseguir licença como pilota internacional. Para conseguir seu objetivo, Bessie teve de ir para a França, já que não foi aceita em nenhuma escola de aviação dos Estados Unidos. Com a licença em mãos, voltou a Chicago, onde passou a fazer apresentações de voos acrobáticos. Bessie queria criar uma escola de aviação voltada para os negros. Durante uma apresentação na cidade de Jacksonville, Flórida, ela voava com seu mecânico William Will, quando o avião biplano Curtiss “Jenny” fez um mergulho. Bessie, que não havia colocado o cinto de segurança, foi jogada para fora do avião e morreu na queda.