Livro: Alice de Lewis Carroll
Esqueça quase tudo o que já viu nos filmes e animações. O livro originalmente chamado “Aventuras de Alice no Subterrâneo”, abreviado para “Alice no País das Maravilhas” é uma obra escrita por Charles Lutwidge Dodgson, pseudônimo de Lewis Carroll, e foi publicado em 1865. O livro não é uma leitura fácil, pois é cheio de sátiras dirigidas tanto aos amigos, como aos inimigos de Carroll. Também tem paródias a poemas populares infantis ingleses, ensinados no século XIX, várias referências linguísticas e matemáticas, jogos e charadas. O livro começa com a personagem Alice sentada embaixo de uma árvore com a sua irmã. Alice observa o livro que sua irmã está lendo e pensa como é chato um livro sem nenhuma imagem, mas logo seus pensamentos são interrompidos quando ela vê um coelho. Ele está correndo e se comporta como um humano, afirma que está atrasado e se lança através de uma toca e, sem pensar duas vezes, Alice vai atrás dele. Ela acaba caindo em um buraco e, durante a queda, observa diversos objetos estranhos que a faz questionar por sua decisão, se reprimindo pela sua imprudência. Quando chega ao solo encontra uma mesa com uma chave dourada muito pequena. No fundo da sala, encontra uma portinha que por trás da fechadura percebe ter um lindo jardim, mas não consegue passar para o outro lado por causa de seu tamanho. Então avista um vidro com um líquido que diz “BEBA-ME”. Quando ela bebe, começa a encolher, ficando com vinte e cinco centímetros de altura. Só então percebe que esqueceu a chave em cima da mesa e, agora que é pequena, não consegue mais alcançá-la.
Vê então um bolo com um escrito “COMA-ME” e, assim que ela come um pedaço, começa a crescer. Mas não cresce o suficiente e começa a chorar. Ela decide comer o resto do bolo, começa a crescer cada vez mais e a falar coisas sem sentido. Com medo de estar perdendo o juízo, seu pranto também aumenta, formando uma lagoa ao seu redor. Após ver o Coelho passar, ela para de chorar e continua sua busca. Quando finalmente entra no jardim, ela passa a enfrentar vários desafios e conhece personagens peculiares, como uma Lagarta que fuma narguilé. Ao se conhecerem, a Lagarta pergunta a Alice quem é ela, e Alice começa a desabafar sobre todas as transformações que sofreu durante o dia, afirmando que não sabe mais quem é. Depois ela vem a conhecer os outros personagens ícones de sua história, como o Gato Sorridente, a Lebre de Março, o Chapeleiro, a Rainha de Copas entre outros.
E assim, a história vai se desenrolando de forma bem parecida com a animação da Disney de 1951, só que com uma narrativa bem mais complexa, que a animação soube adaptar bem. O livro traz questões muito mais profundas e com algumas respostas dos personagens em forma de poesia, das quais ficam difíceis de interpretar devido a muitas delas só fazerem sentido aos ingleses e para a época em que foi escrito. Mas a experiência de ler a obra original e ver as ilustrações, também originais de John Tenniel, não há comparação. É uma experiência totalmente ímpar, mesmo com tanta familiaridade com a animação, o leitor se vê em uma nova história de Alice.
Livro – Alice Através do Espelho
Diferente do primeiro livro, Alice no País das Maravilhas, que teve uma adaptação bem parecida com a animação da Disney de 1951. Mesmo com o livro tendo toda uma narrativa complexa, ainda pode-se dizer que foi uma boa adaptação, já que a história segue quase os mesmos passos do livro, porém com falas ajustadas para o entendimento do público em geral. O mesmo não se pode dizer do livro Alice Através do Espelho, que no momento só pode ser comparado ao filme que teve a atriz Mia Wasikowska como a Alice, lançado em 2016, pois é uma das poucas, senão a única, adaptação já feita do livro. Esse filme quase nada tem a ver com o livro, então, mais do que nunca, valeu a pena ler a história original de Lewis Carroll.
O livro Alice Através do Espelho começa mostrando Alice ainda criança, curiosa e criativa, com uma imaginação fora do comum. Ela, ao brincar com seu gato, começa a imaginar como seria a vida atrás do grande espelho que tem em sua sala. Ela narra a história para seu gato e cria cada passo de como seria estar por trás do espelho, até que ela o toca e realmente vai parar do outro lado. Lá, tudo é ao contrário, mas inicialmente aparenta ser bem parecido com sua realidade. Então, ela ganha confiança e vai desbravando o lugar, que logo se mostra bem diferente das coisas como ela conhece. Ela acaba indo parar em um jardim, o que mostra que ela voltou ao País das Maravilhas, mas dessa vez ela conhece novos personagens e se depara com jogadas de Xadrez, onde ela entra na partida para se tornar uma rainha, sendo que já existem as rainhas Branca e Vermelha. Vale ressaltar que não é a mesma Rainha do primeiro livro, que lá se chama Rainha de Copas. Tal confusão pode acontecer pois no filme de 2010, Alice no País das Maravilhas, as rainhas Branca e Vermelha aparecem, sendo que a Rainha Vermelha do filme acaba sendo a junção das personagens Rainha de Copas e Rainha Vermelha, com uma característica que não consta nas histórias originais: ser cabeçuda. Na adaptação de 2016, ambas as rainhas retornam.
Continuando com a história do livro, Alice precisa enfrentar desafios que a farão se tornar uma rainha, mas sabe-se que em uma partida de Xadrez as peças são certas e não se pode ter rainhas sobrando. A Rainha Vermelha, que é má, engana Alice, fazendo-a acreditar que pode se tornar uma rainha ali. Por isso, ela vai cumprir todos os desafios e, ao chegar no final, tem uma grande surpresa. Dentre os desafios que Alice enfrenta, muitos se assemelham às histórias de Alice no País das Maravilhas, os diálogos continuam sendo complexos e cheios de paródias, poemas populares infantis ingleses, várias referências linguísticas e matemáticas, jogos e charadas. Outra coisa bacana no livro Alice Através do Espelho é que a narrativa se parece mesmo com uma partida de Xadrez. São vários detalhes para se prestar atenção, mas que segundo os estudiosos das obras de Carroll, estão todos corretos.
Uma coisa que é perceptível em ambas as obras de Carroll é que os livros terminam deixando o leitor confuso, pensando se tudo foi um sonho de Alice ou se foi tudo criação de sua mente brilhante. De qualquer forma, é fascinante toda a perfeição de detalhes nas histórias e personagens que Carroll criou, e ele ainda conseguiu colocar, no meio do que já é fascinante, enigmas, poesias entre outras coisas que até hoje estudiosos tentam decifrar.
Finalizando
Esses livros que mostrei aqui, que fazem parte da minha coleção, são uma Classic Edition da editora DarkSide, que traz as histórias em seus textos originais e com as ilustrações também originais de John Tenniel. O livro original se intitula “As Aventuras de Alice no País das Maravilhas”, mas foi abreviado aqui no Brasil para “Alice no País das Maravilhas”. O segundo livro no original se intitula “Alice do Outro Lado do Espelho”, e foi abreviado, para “Alice Através do Espelho”. Ambos os livros são obras infanto-juvenis, escritas por Charles Lutwidge Dodgson, pseudônimo de Lewis Carroll. O primeiro livro foi publicado em 1865 e o segundo, apesar de o lançamento datar de 1871, foi mencionado pelo autor em 1866, como prova seu diário. Isso mostra que ele escreveu Alice Através do Espelho um ano após o lançamento de Alice no País das Maravilhas. Os dois livros foram traduzidos e adaptados por Marcia Heloisa.
Ambas as obras são famosas até hoje, sendo atemporais e abertas a interpretações diferentes. Por isso tantas adaptações em filmes, animações e até animes. Os livros realmente não são de fácil leitura, pois como já disse nos posts de cada livro, as obras são cheias de sátiras dirigidas tanto aos amigos, como aos inimigos de Carroll. Também existem paródias a poemas populares infantis ingleses ensinados no século XIX, várias referências linguísticas e matemáticas, jogos e charadas. É comum o leitor se pegar relendo as obras algumas vezes e tendo interpretações diferentes em todas elas e até quem sabe, decifrar algum enigma, já que a todo momento se tem a sensação de que existem códigos a serem decifrados, escondidos em suas histórias. E isso não deixa de ser verdade, muitos estudiosos das obras de Carroll afirmam que ele pode sim ter feito isso. Mesmo com tudo isso, vale a pena ler esse clássico e ter suas próprias experiências.