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Crítica: O Legado de Júpiter

O legado de Jupiter é uma série de super-heróis criada por Steven S. DeKnight, baseada nas histórias em quadrinhos de mesmo nome de Mark Millar e Frank Quitely, de 2013. A adaptação estreou na plataforma de streaming da Netflix em maio de 2021.

A história mostra um grupo de pessoas da década de 30 que receberam poderes e se tornaram os primeiros super-heróis do mundo. Tudo acontece por conta de visões que o protagonista Sheldon tem logo após a morte de seu pai, que comete suicídio quando a bolsa de valores vai à colapso. Sheldon passa a ver seu pai morto, que envia sinais confusos para que ele vá a uma ilha misteriosa no Oceano Pacífico, sem saber o que vai encontrar ou quais os motivos para ir até lá.

Na série deixaram essa parte tão dramática, que no final fica confuso quem realmente o chamou. Na HQ é revelado que foram alienígenas. Até aí tudo bem, eles podem ter adaptado para não incluir a questão de aliens na história da série, mas se isso não for bem explicado no futuro, ficará um buraco na história. Afinal, de onde vieram esses poderes? E por que eles foram os escolhidos? Na HQ, essa também é uma questão em aberto, então eles podem de certa forma fazer a adaptação deles ou seguir a sequência nas HQs.

A série no geral é boa, traz as questões do fardo que é para os filhos que herdam os poderes dos pais, que precisam corresponder à altura o que eles representam, algo que para Chloe Sampson e seu irmão Brandon Sampson tem um peso ainda maior por serem filhos dos líderes, Sheldon, o Utópico e Grace, a Lady Liberdade. As questões levantadas muito se assemelham aos valores que bons pais passam para seus filhos na realidade, o que também pode mostrar o porquê de falharem.

Corresponder às expectativas de alguém é sempre uma pressão em qualquer sociedade, para os heróis é ter que ser tão bom quanto os pais, seguindo o Código acima de tudo, mesmo quando não se acredita nele. O Código foi criado pelos heróis fundadores da União da Justiça e define padrões morais como não matar ou se intrometer na política do mundo. Para pessoas normais, pode ser a mesma pressão, quando não se corresponde às expectativas na religião, sexualidade e para o que se deseja fazer com sua própria vida. A falha pode ser a mesma para ambos os lados, quando se acaba deixando de lado os pequenos detalhes, como ser mais presentes na vida dos filhos e aceitar o que lhes fazem feliz.

No mais, a série teve grandes falhas em matar personagens tão precocemente. Para quem leu as HQs, sabe-se que a luta que se seguiu com Blackstar nem teve mortes. Se a ideia era causar algum impacto com os óbitos, erraram no “time”. Eles poderiam ter apresentado melhor os personagens, contando mais de suas histórias, detalhando melhor seus poderes, deixando mais claro as motivações de cada um, dando chance ao público para os conhecer e se apegar, e depois, quando partissem, viriam a fazer alguma falta, criando empatia pela perda. Essa má apresentação dos personagens se estendeu a quase todos eles, sendo a esposa do Sheldon, Grace, uma das afetadas, por exemplo, pois para quem não leu as HQs, pode ter ficado com dúvidas de quais eram os poderes e habilidades dela e dos demais personagens da trama. Afinal, devido a serem personagens relativamente recentes, eles não são tão famosos assim.

Contudo, não desanime, assista sim, a esta série, pois se continuarem sendo quase fiéis às HQs, como estão sendo até o momento, ela promete grandes emoções. A fidelidade a alguns trechos das HQs são um presente para os leitores, já que retratam de forma idêntica cenas como da Chloe e sua queda na mesa após uma overdose, a cena do Walter com o vilão Blackstar na praia, entre outras. As questões de sexualidade, da fama de alguns e das drogas em evidência na vida dos personagens mais jovens, também estão bem representados como nas HQs. Nada na série foi para exagerar, eles representaram no limite do que as HQs mostram.

A questão do Código é o ponto alto dos heróis, algo que também é questionado nas HQs, afinal fica óbvio que nos dias de hoje é matar ou morrer. É se defender ou perder um amigo ou parente. Até onde vale seguir o Código, afinal?

E é nesse ponto, que a nova geração se posiciona e começam a surgir repostas do porquê é tão importante seguir o Código. Na série, Brandon está fora dos holofotes e está em ascensão para ocupar o lugar do pai. Na HQ não é bem assim, ele e a irmã Chloe são famosos, que se rebelaram contra o pai e querem viver suas vidas, mas depois de um golpe familiar, mostrado nas HQs, as coisas mudam de forma radical. E após um longo tempo, Chloe e sua nova família, que na HQ são Hutch e seu filho, assumem a liderança. Logo se a série seguir os passos da HQ, uma grande heroína surgirá.

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