Mundo Geek Feminino

Crítica: Viúva Negra

O filme solo da Viúva Negra se passa entre a Guerra Civil e a Guerra Infinita, ambos filmes do MCU. O lançamento sofreu grandes atrasos devido à pandemia, mas chegou bem a tempo de introduzir a nova personagem Yelena Belova, interpretada pela atriz Florence Pugh, que veremos nessa nova fase da Marvel e que já aparecerá na próxima série da Disney+, do Gavião Arqueiro. Com isso, pode-se dizer que o filme foi uma boa estratégia para introduzir a personagem. Claro que o longa tirou algumas dúvidas, como o caso de Budapeste, e mostrou mais da história de Nat no MCU, nos dando mais alguns momentos com essa personagem ícone, que devia ter recebido este filme há mais tempo.

Contudo, não temos do que reclamar, no geral sua história foi sensacional! Se era representatividade feminina o que faltava, agora não falta mais, pois a mulherada foi destaque do início ao fim, dominando tudo, das heroínas até as vilãs. A sala vermelha e a quantidade de Viúvas criadas como armas foi muito bem representada como nas HQs, a cena em que elas estão treinando foi de arrepiar, assim como quando estão enfrentando a Nat, a pioneira das Viúvas, foi um máximo. Teve cenas de ação do início ao fim, com um pouco de humor e uma quantidade certa de melancolia.

Uma das cenas mais fortes, que particularmente amei, pois só demonstra o quanto Nat é forte, foi quando ela quebra o próprio nariz, para não permitir que o cheiro do feromônio do General Dreykov, interpretado pelo ator Ray Winstone, a impedisse de feri-lo. Melhor ainda, foi quando ela colocou seu nariz no lugar, na sequência, como se não tivesse sido nada demais. Essa cena também ocorre nas HQs, Nat sempre deu seu jeito de burlar essa proteção de Dreykov e atacá-lo. Muito desse filme tem referência direta com a HQ Viúva Negra: Origem Fatal, onde Nat também enfrenta o General em uma base aérea, que se parece muito com um aero porta-aviões da SHIELD. Outra referência dessa HQ, foi o traje branco que Nat e Yelena usaram. Ele as ajuda a se camuflarem em ambientes brancos e com neve.

Finalmente a explicação sobre o que aconteceu em Budapeste veio à tona. Quando Nat vai até Yelena, o encontro acontece em Budapeste e, nesse momento, ela começa a revelar aos poucos os acontecimentos que nos deixaram tão curiosos. A heroína revela que as marcas vistas na parede do lugar são de flechas e não de balas, dando referência ao Clint Barton. Depois, Nat conta que ela esteve no país com Clint em uma missão para matar Dreykov, algo que foi coordenado pela SHIELD. Eles passaram dias implantando bombas no esconderijo de Dreykov, mas no dia da execução do plano, a filha do General apareceu e Nat deu continuidade à missão, mesmo sabendo que sua pequena filha morreria também.

Este talvez seja um dos arrependimentos que Nat sempre citava, mas não nunca deixava claro exatamente do que se tratava, até porque este episódio deve ter sido apenas mais um dos que ela teve que cometer ao longo da carreira como Viúva Negra. Toda explicação é dada a Yelena, assim que Nat descobre que seu plano não deu certo ao saber que Dreykov continua vivo e com uma Sala Vermelha ativa, criando Viúvas Negras. Ele precisa ser impedido e ela pede ajuda à Yelena.

Não apenas é revelado que Dreykov permanece vivo e precisa ser detido rapidamente, como também descobrimos quem é o personagem misterioso, o Treinador. Era a filha de Dreykov que sobreviveu à explosão, ficou tão debilitada que precisou de um chip implantado em seu cérebro para poder andar com o auxílio de uma roupa especial, que também serve para esconder as cicatrizes. Claro que com um pai como Dreykov, ele aproveitou da situação e fez da filha uma arma viva, que copia todos os ataques de seus adversários.

Ficou claro que seus ataques eram bem parecidos com o do Capitão América, entre outros, isso porque, já na sua primeira cena, ela está em uma sala observando um monitor que traz várias gravações da batalha que aconteceu no aeroporto em Guerra Civil. O Treinador nas HQs é um personagem masculino e seu poder é exatamente o de copiar seus inimigos. No MCU, ela se chama Anya Dreykov, vivida pela atriz Olga Kurylenko, e Anya é referência a uma grande inimiga de Nat nas HQs, filha de uma diretora das muitas Salas Vermelhas que surgem nas histórias de Nat. Foi uma ótima referência e boa adaptação colocá-la como a versão feminina do personagem O Treinador.

Esses detalhes foram o ponto mais alto do filme, para quem é fã e leitor das HQs, pois pode não só perceber essas e outras referências, como também a mãe de Nat, Melina Vostokoff, que foi interpretada pela atriz Rachel Weisz. Nas HQs ela também é uma grande vilã de Nat e se intitula a Dama de Ferro. No filme, Melina é uma cientista e depois que se separou de Nat e Yelena, passou a viver isolada em uma fazenda, criando porcos que ela usava para experimentos de controle mental. Por fim, ela acaba ajudando as meninas e mostrando que tinha sentimentos de família pelo pouco tempo que tiveram juntas.

Como nem tudo são flores, houve alguns pontos que achei negativos no filme, mas apenas por questão de ser leitora das muitas HQs de Nat, porém, ainda são aceitáveis. Dá para entender que é uma adaptação para mostrar a história de Nat no MCU e introduzir outros personagens como Guardião Vermelho, Yelena, entre outros. Também serve como justificava para alguns acontecimentos e ações de Nat no MCU. Para quem a conhece das HQs, sabe que ela não poderia ter morrido naquela queda em Ultimato, pois a personagem, nas HQs, tem o soro do Supersoldado, mas ficou claro em seu filme solo que não havia soro em seu corpo.

De certa forma, isso deixa a personagem até mais interessante no MCU, pois tudo foi por mérito de sua força e habilidades. Mas a parte mais inquietante foi terem contado a história de Nat como se o Guardião Vermelho fosse o pai adotivo de Nat e de Yelena, sendo que nas HQs, o Guardião Vermelho foi o grande amor de Nat. Mas “Eu posso aceitar isso e meu coração continua aberto” (referência à série: Eu, a patroa e as crianças). Quanto a Yelena, por mais que não tenha sido como nas HQs, onde é uma adversária quase a altura de Nat, ainda foi mais aceitável vê-la como irmã mais nova, pois depois de um tempo, a relação delas fica bem intima nas HQs, como de irmãs mesmo.

Em entrevista ao Cinema Blend, a atriz Florence Pugh, que interpreta Yelena, disse que o filme da Viúva Negra é sobre mulheres que foram abusadas. “Acho que é uma das tristezas sobre este filme, é essencialmente sobre mulheres que foram abusadas. Quer trate de um sistema ou de abuso físico. Todas elas foram, de alguma forma, presas.” Com a estreia do filme, isso ficou muito em evidência e gerou uma grande comoção na Internet, com muitas mulheres colocando seus pontos de vista, mencionando cenas como a que Dreykov diz utilizar o único recurso natural que o mundo tem em abundância: meninas.

Tudo isso me fez pensar até na exploração sexual de meninas menores de idade, na prostituição em geral, que é muito maior entre as mulheres. A diretora Cate Shortland disse que a cena da pose de Nat, que Yelena fica questionando, foi proposital, para mostrar que a pose da heroína era muito sexualizada nos filmes. Por fim, a mensagem fica clara afinal, quando Yelena, em determinado momento, se vê fazendo a pose, e diz que aquilo foi péssimo, se mostrando até enojada.

Uma possível explicação para a saída da atriz Scarlett Johansson da Marvel, seja por conta da sexualização. Intimidada pela idade e por não se sentir confortável com o físico que iniciou no MCU, algo que a própria criticou em uma entrevista concedida ao site Collider durante as gravações de Viúva Negra, Scarlett declarou que sua personagem foi hipersexualizada em Homem de Ferro 2 (2010). “Ela é tratada como um pedaço de algo, uma posse – como um pedaço do seu traseiro, na verdade.” Ela também diz: “Eu tenho um entendimento muito mais evoluído de mim mesma hoje. Eu sou mais compreensiva comigo como mulher – provavelmente não o suficiente, mas me aceito melhor e tudo isso está relacionado ao afastamento dessa sexualização.”

A entrevista deixa claro o desconforto da atriz com sua personagem ser hipersexualizada, chegando a interferir na própria autoestima. Sem contar que em entrevistas, os repórteres eram totalmente inconvenientes, chegando perguntar a ela sobre a dieta, as lingeries que usava por baixo do traje, entre outras coisas que a deixava muito desconfortável, e com toda razão. Com o tempo, vimos que as roupas da personagem e alguns closes foram mudando, mas até em seu filme solo podemos ver ainda partes sexualizadas em alguns closes “sutis”.

A cena pós crédito mostra Yelena sendo manipulada por Valentina Allegra, personagem que vimos na série Falcão e Soldado Invernal. Ela diz que Clint é o culpado pela morte de Nat, deixando Yelena irada. A expectativa pelos próximos acontecimentos são altas, pois a Marvel não tem dado ponto sem nó, já direcionando Yelena para a série do Clint, que ainda não tem data, mas está prevista para 2021. Enfim, para finalizar, quero ressaltar que esse é um dos meus filmes mais queridos de representatividade de personagem feminina da Marvel, até o momento. O filme é perfeito e, sem dúvidas, deu a despedida que precisávamos para a atriz Scarlett Johansson, do papel Viúva Negra, tirou nossas dúvidas e fez várias referências às personagens das histórias de Nat das HQs. Tudo lindo, tudo perfeito. Obrigada Marvel!

Compartilhe este post!