A Verdadeira História de Alice
A personagem Alice foi inspirada em uma menina de verdade, chamada Alice Pleasance Liddell. Tudo começou em 1862, durante um passeio de barco, onde Charles Lutwidge Dodgson contou uma história de improviso para entreter as três irmãs Liddell, Loriny Charlotte, Edith Mary e Alice Pleasance, filhas de Henry George Liddell. Ele contou de improviso, sem pretensão alguma, mas Alice gostou tanto que pediu para que ele a escrevesse. Apesar da personagem ter sido aparentemente baseada em Alice Liddell, as ilustrações originais dos livros, feitas por John Tenniel, não têm a aparência real dela. Existe uma teoria de que Carroll enviou ao ilustrador uma fotografia de Maria Hilton Tennielowi Babcock, uma amiga do autor, mas não se sabe se John realmente a utilizou como modelo.
A história real por trás de Alice pode ser bem pesada e repulsiva, pois existem vestígios de que Dodgson pode ter sido um pedófilo. Dodgson foi dar aulas para as meninas Liddell e aparentemente já era amigo próximo da família antes mesmo disso. Ele conhecia Alice, talvez, desde os 3 anos, mas quando começou a trabalhar para a família, Alice já tinha 10 anos e, ao que tudo indica, ele se apaixonou por ela nesse período. Esses boatos se formaram com o tempo, devido a diversos fatores que ficam difíceis de rebater. Um deles é que fica claro que Alice era sua favorita entre as irmãs. Dodgson adorava fotografar e desenhar, todas as meninas serviam de modelos para ele, sempre com consentimento dos pais, mas Alice era usada como modelo com uma frequência bem maior e em situações diferentes das irmãs. As fotos aparentavam ter cunho sensual, mas segundo os estudiosos, a ideia das fotos era passar a fome e questões sociais da época.
Pode até ser, mas quando Dodgson morreu, várias fotos de crianças nuas ou quase despidas foram encontradas em sua casa, e a pior parte é que ele costumava dizer que gostava de crianças, exceto meninos. Dodgson também trocava correspondências com as crianças que o serviram como modelos, o que virou tema do livro “Cartas às suas Amiguinhas”, da editora Sette Letras. O conteúdo das cartas revela uma intimidade fora do comum entre as partes envolvidas. Vale ressaltar que muitos estudiosos o defendem, pois para época, era comum o casamento de meninas tão novas.
Verdade ou não, fato é que a amizade de Dodgson com a família Duckworth acabou de forma brusca. Até hoje não se tem provas dos reais motivos de seu afastamento. Alguns chegaram a dizer que isso ocorreu após ele pedir Alice em casamento, aos seus 11 anos de idade, outros dizem que ele se envolveu com a governanta da casa e isso foi malvisto pela família, mas não se tem provas sobre nada disso, e as páginas de seu diário que poderiam contar a verdade foram arrancadas. O estranho na história da governanta é que Dodgson nunca teve um relacionamento, pelo menos não registrado, ele é descrito como solitário e morreu solteiro.
Um dos fatos que mais chama a atenção e que pode contribuir com a teoria de que Carroll era mesmo apaixonado por Alice é justamente a troca de seu nome. Isso ocorreu quando ele terminou de escrever o livro, aparentemente ele não podia nem se aproximar da família, então enviou o primeiro livro por correio para Alice Liddell, sob o pseudônimo de Lewis Carroll, nome que ele utilizou para os dois livros: Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho. O autor, em vida, negou ter se inspirado em uma criança real, mas vários fatores apontam para Alice Liddell. Um deles está em Alice Através do Espelho, onde há um poema no qual as letras iniciais de cada verso formam o nome “Alice Pleasance Liddell”.
Uma curiosidade: Carroll também é um personagem das histórias de Alice. Ele é o pássaro Dodô, virou esse personagem pois tinha gagueira, e toda vez que ia pronunciar seu sobrenome Dodgson, repetia a sílaba “do”. Outra curiosidade bem interessante é que existe uma síndrome chamada “Alice no País das Maravilhas”, também chamada de micropsia, ela altera a forma como a pessoa percebe os objetos e se manifesta muitas vezes por meio de epilepsia ou enxaquecas. Muitos estudiosos das obras de Carroll defendem que ele sofria com essa doença e que foi isto que o inspirou na criação da obra.
Influenciado pelos seus amigos, Dodgson decidiu publicar o livro e mudou o nome e a versão original, aumentou de 18 mil palavras para 35 mil, adicionou as cenas do Gato de Cheshire e do Chapeleiro Maluco. O livro foi um sucesso tão grande, que até a rainha Vitória se tornou fã da obra. Quanto à Alice Liddell, ficou famosa pelos livros, mas acabou odiando a fama que veio com o sucesso do livro, pois as pessoas viviam a comparando com a personagem. Tal conflito rendeu até um livro “Eu Sou Alice”, de Melanie Benjamin. Anos depois, Alice vendeu o primeiro livro de Dodgson por uma boa quantia, quando passou por uma crise financeira após a morte de seu marido. Alice nunca entrou em detalhes sobre seu relacionamento com Dodgson, nem mencionou os motivos pelo afastamento dele de sua família. Já os descendentes da família de Alice que vivem até hoje no mesmo local, afirmam que Carroll não era um pedófilo e só gostava de contar histórias para crianças.
Enfim, mesmo em meio a essa questão problemática do autor Lewis Carroll, com muitos estudiosos o defendendo pelo período e contextos de uma outra geração, o fato é que suas obras são boas e não tem referência a pedofilia. Alice no País das Maravilhas já passou da marca de 150 anos e ainda é um clássico entre as gerações. Como uma grande fã da obra, prefiro acreditar que a história de Dodgson não é verdade e que mesmo com muitos mistérios e perguntas sem respostas, tudo não se passa de especulações.